Como são Construídas as Taipas em uma Lavoura de Arroz
O cultivo de arroz irrigado por inundação, isto é, com a presença de uma lâmina d'água, é a realidade em 88,2% das lavouras de arroz no Brasil, estando presente em 99% das áreas do estado do Rio Grande do Sul. Essa prática, além de garantir maiores produtividades, traz diversas outras vantagens quando comparada à condição de sequeiro (sem irrigação). Para reter a água na lavoura são utilizadas duas técnicas: sistematização da área ou delimitação em curvas de nível.
A sistematização da área nada mais é que o nivelamento do terreno e posterior fechamento, formando quadros geralmente retangulares com área de 1 a 2 hectares. Quando não é possível realizar essa operação, são construídos diques nas curvas de nível do talhão, ficando os quadros compreendidos entre cada um desses. Esses diques são chamados de marachas ou, mais popularmente, taipas e são construídos utilizando implementos específicos para essa função.
Aspectos construtivos
Taipas modernas, ou de perfil baixo e base larga, em geral possuem 2,8 m de largura e altura variando de 17 a 20 cm, tendo algumas vezes apenas 13 cm. Já as taipas convencionais são mais estreitas e geralmente mais altas, possuindo entre 1 e 1,5 m de base e 30 a 60 cm de altura. As taipas altas são pouco utilizadas atualmente, isto se deve às vantagens que o método moderno trouxe, como permitir que os implementos circulem por cima dessas, permitindo que a construção das taipas seja feita de forma antecipada. Outra vantagem é a quase inexistência do leiveiro, sulco criado ao movimentar a terra durante a construção das marachas, o que permite melhores produtividades nessa região.
Figura 1: Ilustração evidenciando as diferenças construtivas das taipas tradicionais (acima) e modernas, ou de perfil baixo e base larga (abaixo) (Fonte: Auster Tecnologia).
A construção das taipas em si, consiste apenas em puxar um arado específico para esta tarefa, que direciona a terra para o centro formando um amontoado, e então passar um rolo compactador para evitar erosão e danos quando for realizada a semeadura. Porém, antes de proceder com a construção, é preciso que a área seja mapeada e se faça um registro de onde serão feitas as taipas.
Figura 2: Taipadeira de base larga, a frente o arado que direciona o solo para o centro e na traseira o rolo compactador para dar forma e evitar erosão (Fonte: KLR Implementos).
Métodos convencionais de mapeamento
O método mais tradicional, e ainda muito utilizado, é o mapeamento com o Nível Laser, este consiste de um equipamento montado em um tripé que emite um laser a cota constante, que é captado por um receptor instalado em uma régua no trator. Dependendo da posição que o laser atinge o receptor, um monitor indica ao operador se está abaixo ou acima do nível inicial, dessa forma é possível corrigir a trajetória e retornar à altitude desejada.
Esse tipo de mapeamento utiliza um riscador para gravar no próprio solo as linhas de construção das taipas, que depois serão seguidas por um trator equipado com uma taipadeira, o que dispensa a necessidade de piloto automático no veículo e gastos com geração de mapas digitais. Por outro lado, a precisão da operação depende totalmente da habilidade do operador em conseguir manter-se no nível inicial, definir correto espaçamento entre as marachas e posteriormente seguir as marcas feitas no solo.
Figura 3: Monitor do nível laser utilizado na operação de mapeamento, a direita esquema representando a comunicação do emissor laser e receptor instalado no trator (Fonte: Spectra Precision, Auster Tecnologia).
Uma alternativa ao Nível Laser, mais moderna e que depende menos do operador, é o mapeamento com GNSS - RTK, Sistema Global de Navegação por Satélite - Cinemática em Tempo Real (tradução nossa). Esse método utiliza um receptor GNSS, famoso pelo americano GPS, embarcado em um veículo (geralmente um trator), e uma base fixa em uma posição conhecida, esta faz a correção em tempo real das leituras efetuados pelo dispositivo do trator. Com esse equipamento são feitas medições pontuais ao longo de todo o talhão e, posteriormente, é gerado um modelo digital de elevação (MDE), a partir do qual são geradas as curvas de nível.
Diferentemente do Nível Laser, o RTK retorna ao agricultor um mapa para ser inserido no trator, que então realiza o entaipamento com o piloto automático, eliminando erros devido a eventuais descuidos ou mesmo inabilidade do operador. Além disso, é possível ajustar com maior precisão o desnível entre taipas, aumentando ou reduzindo quando necessário, e com precisão altimétrica melhor que 2,5 cm. Porém, esse requer maior investimento, uma vez que depende do produtor adquirir um sistema de piloto automático ou um trator com essa tecnologia inclusa, receptor GNSS - RTK (cujo sinal muitas vezes é pago) e contratar serviços de processamento das informações coletadas.
Figura 4: Monitor do piloto automático utilizado nas operações de mapeamento e entaipamento, a direita esquema representando a comunicação entre satélite, base e receptor GNSS RTK instalado no trator (Fonte: Trimble, Auster Tecnologia).
Mapeamento aéreo com drones
Uma alternativa aos métodos convencionais, pouco utilizada na agricultura, mas que está se tornando cada vez mais conhecida, é o mapeamento aéreo utilizando drones. Esse método, da mesma forma que o mapeamento com GNSS RTK, utiliza um MDE para gerar as curvas de nível, porém a medição é feita de forma remota, isto é, ele captura imagens georreferenciadas do talhão em que centenas de milhares de feições são identificadas, gerando uma amostragem extremamente densa. E é nesse ponto que se tem a maior diferença entre o mapeamento com trator e com aeronaves, pois enquanto se coletam dados altimétricos a cada 1 m ou até 1,5 m, em faixas espaçadas de 6 a 8 m no caso do mapeamento terrestre, um drone é capaz de formar uma malha com alguns centímetros de espaçamento. Mas para aproveitar esse potencial o drone precisa estar equipado com um sensor óptico (câmera) de boa qualidade e saber a exata posição e orientação durante a captura de cada foto, por esse motivo eles são equipados com receptores RTK ou PPK (precursor do RTK que funciona com correção de cinemática pós-processada).
Figura 5: Mapas de um talhão evidenciando a amostragem realizada por mapeamento com GNSS RTK e via mapeamento aéreo, no primeiro notam-se nitidamente as faixas de coleta do trator, enquanto no último, cada pixel da imagem equivale a um ponto amostrado (Fonte: Auster Tecnologia).
A geração de curvas de nível por mapeamento feito com drone é um serviço muito especializado que geralmente é realizado por empresas terceirizadas, apresenta todas as vantagens do mapeamento convencional com RTK e ainda elimina algumas limitações desse método. A principal delas é o tempo de realização, pois a produtividade é muito elevada (partindo de 300 hectares ao dia) e não necessita entrar na área, bastando ter uma condição de tempo firme e solo não alagado. Outra vantagem é que erros inerentes ao processo de medição, como afundamento das rodas do veículo que está coletando as informações, seja por diferença de compactação, presença de pedras, torrões muito grandes, etc., são muito minimizados, pois consegue-se atingir precisão de alguns milímetros com o mapeamento aéreo.
Figura 5: Mapas das curvas de nível de um talhão, onde nota-se um elevado número de curvas nos cantos do talhão, locais onde deve-se aumentar o desnível para impedir sobreposição das marachas (Fonte: Auster Tecnologia).
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